Se não levássemos em conta os retrocessos institucionais que o
golpe parlamentar contra a presidente Dilma Rousseff já acarreta, não seria de
todo mau os brasileiros estarem tendo a oportunidade de experimentar o que é
ser governado pela direita, sobretudo por uma direita tosca como a que congrega
PSDB e PMDB.
O
golpe se abateu sobre o Brasil em um momento em que muitos, à esquerda, já não
valorizavam as conquistas sociais da era petista, atribuíam a si mesmos a
melhora de vida que tiveram só a partir de 2003 e, loucura das loucuras,
afirmavam que PT e PSDB seriam “a mesma coisa”.
O
golpe, como era previsto, além de não melhorar a economia – já que a crise
política continua, apesar de, com Temer, o Congresso ter parado de sabotar o
governo federal – ainda trouxe uma avalanche de projetos de medidas
antipopulares que prometem piorar a vida do brasileiro – hoje e pelas próximas
gerações.
Até
antes das eleições, muitos não acreditavam em uma reforma draconiana da
Previdência, em terceirização descontrolada do mercado de trabalho e, pior do
que tudo, em uma reforma trabalhista que permitisse aos empresários contratar
funcionários sem pagar direitos trabalhistas como férias, 13º salário, fundo de
garantia etc.
Como
se não bastasse, o golpe ainda gerou uma proposta de mudança da Constituição de
um teor destrutivo tão grande que fez com que a Organização das Nações Unidas
se manifestasse.
Na semana que finda, o relator especial da ONU sobre
a extrema pobreza e os direitos humanos, Philip Alston, advertiu que os planos
do governo do Brasil de limitar durante 20 anos os gastos sociais “são
totalmente incompatíveis” com as obrigações do país em relação aos direitos
humanos.
Como
se sabe, o Senado deve votar em 13 de dezembro uma emenda à Constituição,
conhecida como PEC 55, que limitaria durante 20 anos o crescimento da despesa
federal com relação à taxa de inflação do ano anterior.
“O
principal e inevitável efeito desta proposta de emenda à Constituição (…)
prejudicará os pobres durante décadas”, afirmou Alston em comunicado.
“Se
for adotada, esta emenda bloqueará despesas em níveis inadequados e rapidamente
decrescentes em saúde, educação e seguridade social e colocará em risco uma
geração inteira de receber uma proteção social abaixo dos padrões atuais”,
advertiu.
Na
opinião do relator especial, “é completamente inadequado congelar só a despesa
social e atar os mãos de todos os futuros governos durante outras duas
décadas”.
Nesse
sentido, o relator da ONU sustentou que, se a emenda for aprovada, o Brasil
entrará em um “retrocesso social”.
Não
foi o PT que disse isso, foi a ONU, através da pessoa indicada pela organização
para fiscalizar as políticas públicas relativas à pobreza e aos direitos
humanos. A direita brasileira, claro, dirá que a ONU é “comunista”, apesar de
ser controlada pelas maiores potencias capitalistas do planeta.
O
mundo está boquiaberto com o que está acontecendo no Brasil, país que, com
anuência de grande parcela do seu povo, tirou um governo voltado para a
dramática questão social do país para colocar, no lugar, fanáticos de
ultradireita que se mostram dispostos a promover um genocídio social.
Em
resumo, o que ocorreu no Brasil é que tiraram a parte boa do governo Dilma (ou
seja, ela própria e o PT) e deixaram a parte ruim, que logo se aliou ao PSDB,
outra excrescência ultraconservadora conhecida pela insensibilidade social.
É
por essas e por outras que a comunidade internacional já vê o processo político
no Brasil como uma ameaça. Um sólido indício desse fenômeno foi justamente um
órgão de imprensa internacional famoso pelo seu conservadorismo decidir premiar
duas mulheres derrotadas pela ultradireita em seus respectivos países.
A
escolha de Dilma Rousseff e Hillary Clinton como “mulheres do ano” pelo jornal
britânico Financial Times sinaliza preocupação da comunidade internacional com
os governos que estão ascendendo em dois dos maiores países do mundo, Brasil e
Estados Unidos.
A
ascensão de Donald Trump nos EUA e do consórcio tucano-peemedebista no Brasil
deve acirrar problemas sociais nas Américas e, muito provavelmente, desencadear
novas aventuras militares dos norte-americanos.
O
mundo vê com preocupação a ascensão fascista nas Américas.
É
nesse contexto que o drama brasileiro chega a uma nova etapa, a etapa em que
começa a cair a ficha de boa parte dos brasileiros que aderiram ao golpe ou que
ao menos condescenderam com ele.
Um
bom indício disso é a súbita mudança de atitude da grande imprensa
conservadora. Prevendo o que vem por aí, Globos, Folhas, Vejas e Estadões já se
preparam para descartar Temer, o PMDB e até o PSDB, como forma de “salvar a
cara” diante da comunidade internacional, para a qual já não há mais dúvida de
que o Brasil sofreu um golpe de Estado.
Nas
últimas semanas, ocorreu o impensável. Tanto o Jornal Nacional quanto a revista
Veja atacaram os políticos mais importantes do PSDB.
Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
Nenhum comentário:
Postar um comentário