Por Ari Zenha
via Caros Amigos
“As colunas da injustiça sei que só vão desabar quando o meu povo, sabendo que existe, souber achar dentro da vida o caminho que leva à libertação” – Thiago de Mello
Compartilhamos com inúmeros pontos da análise de Boaventura de Sousa Santos em seu livro: “A Difícil Democracia, Reinventar as Esquerdas”. Com lucidez e profundidade, Boaventura nos remete a importantes questões que permeiam a realidade, notadamente social e política, tanto do século XX como neste início do século XXI.
Tendo como “pano de fundo” as considerações e análises de Sousa Santos, vamos partir para um enfoque que imbuído de uma perspectiva revolucionária, transformadora da realidade mundial, possamos contribuir para o grande debate em que as várias nuanças do movimento, da “flexibilização” e da dinâmica do capitalismo têm demonstrado há mais de 200 anos de hegemonia e força, tanto econômica como política.
| "Uma sociedade marcada pelo consumismo e pelo individualismo que se impõe aos seres humanos uma, que chamamos não identidade, ou melhor, uma espécie de desterro" | |
Vivemos hoje com uma impetuosidade nunca imaginadas um capitalismo arrogante, dominador, opressor, destruidor e demoníaco!
Viver hoje em bem dizer qualquer parte do mundo é não escaparmos ao que alguns chamam de sociedade do espetáculo, da vida espetacularizada, às mutações constantes, visíveis e “invisíveis” que transpassa um existir, simbólico e real, onde o sentimento de impotência, de desprazer, de medo, de violência de uma sociedade marcada pelo consumismo e pelo individualismo que se impõe aos seres humanos uma, que chamamos não identidade, ou melhor, uma espécie de desterro. Mas esse banimento provoca e determina uma infinidade de modelos, de “confortos”, de encontros e desencontros no que chamo hoje de espaço virtual, espaço cibernético, tempo de internet, das comunicações e vidas virtuais, simulando e trazendo ao indivíduo um prazer, uma satisfação, uma vida de servilismo, de subserviência que é considerada e vivida com prazer, com satisfação, onde o desgosto, o desprazer, é complementado pelo consumo, plasmado numa cultura do hiperconsumo, do prazer efêmero que deve ser constantemente preenchido velozmente e em escala cada vez maior, insaciavelmente.
Ao realizarmos essa pequena digressão, vamos tomar os rumos a que achamos fundamentais, indispensável que é construção da democracia, mas a que chamo coletivo-democrático-popular. Essa forma de democracia vem e tem que ser construída, alicerçada na reflexão, na prática e constatação de que o neoliberalismo “é antes de tudo, uma cultura do medo, do sofrimento e de morte para as grandes maiorias...”.
A grande “armadilha” que a esquerda em sua quase totalidade está acorrentada, imobilizada e sem saída, evidencia que essa “armadilha” das direitas em que se encontra boa parte das esquerdas, grosso modo, representa uma espécie de cultura de redução a uma realidade que Boaventura chama; “reduzir a realidade ao que existe, por mais injusta e cruel que seja, para que a esperança das maiorias pareça irreal. O medo na esperança mata a esperança na felicidade”.
A hegemonia do capitalismo neoliberal comandada pela lógica do capital financeiro e do mercado sem peia, na busca, insana, de acumulação, lucro e reprodução de suas forças produtivas, de suas tecnologias avassaladoras, na destruição do ecossistema, da biodiversidade e do próprio ser humano, está na lógica do imperativo do capitalismo global. Hoje como a algumas décadas representadas no que concordamos com Boaventura, um fascismo social, um fascismo político e acrescentamos, um fascismo econômico.
O fascismo social, político e econômico se entrelaçam de forma dialética não convivem separadamente de forma estanque, nem representam a sua forma clássica como veio ao mundo, como fascismo italiano e o nazi fascismo alemão. Os vários matizes de fascismo têm se
| "O capitalismo ao longo de mais de um século têm se portado com um dinamismo que nós, da esquerda, não podíamos, ou melhor, não tivemos a lucidez e perspicácia de entender" | |
apresentado em diversas partes do mundo sua afirmação, suas características e formas de agir, de atuar e se representar diante da realidade, do concreto, assumindo peculiaridades que se adaptam às inúmeras aparências históricas agrupando as necessidades do capitalismo aos seus imperativos necessários a sua manutenção e expansão como modo de produção.
O capitalismo ao longo de mais de um século têm se portado com um dinamismo que nós, da esquerda, não podíamos, ou melhor, não tivemos a lucidez e perspicácia de entender e nos adequar para enfrentar o capital e suas variantes de hegemonia e dominação!
O capitalismo ao longo do tempo tem mantido uma voracidade, uma violência tão impetuosa e devastadora, que aliada a um despotismo ideológico e opressor que se alastra pelo mundo irradiando seu modus de vida com uma eficácia, competência, maleabilidade e versatilidade que muito de nós da esquerda não tivemos a lucidez e acuidade de entender e nos adequar a luta contra o capital em suas variantes de hegemonia e dominação!
Constatar esses pontos não significa para as esquerdas e para o movimento revolucionário sinal de fraqueza, de temor ou de incapacidade de levar adiante a luta contra o capital e seus ideólogos, mas sim, uma demonstração de humildade e sabedoria para que possamos enfrentar a luta revolucionária com mais lucidez, discernimento e determinação!
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