RELOGIO

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

John Fante

 

Pergunte ao Pó, de John Fante, conta a história do jovem Arturo Bandini que vai para Los Angeles tentar a vida como escritor. Após escrever um conto de relativo sucesso, O Cachorrinho Riu, ele aluga um quarto de hotel para viver exclusivamente da escrita. No entanto, ele não consegue escrever nada, afinal como o próprio afirma, não possui experiência nenhuma sobre a vida e, assim, como escrever?
Assim, ele começa a caminhar pela cidade e manter relações e aproximações com pessoas como a garçonete mexicana Camilla Lopez, o barman Sammy, a mulher da cicatriz Vera Rivken e seu mentor, o único que acreditava em seu talento (mas que na obra sequer aperece), o editor J. C. Hackmuth. O grande problema de Bandini é sua personalidade: de frágil auto-estima e altamente consciente de suas fraquezas, quase sempre reage às coisas com preconceitos, violências, xenofobias, ataques de fúria e auto-preservação. 

“O mundo era pó e ao pó voltaria”
John Fante

Assim, ele começa a caminhar pela cidade e manter relações e aproximações com pessoas como a garçonete mexicana Camilla Lopez, o barman Sammy, a mulher da cicatriz Vera Rivken e seu mentor, o único que acreditava em seu talento (mas que na obra sequer aperece), o editor J. C. Hackmuth. O grande problema de Bandini é sua personalidade: de frágil auto-estima e altamente consciente de suas fraquezas, quase sempre reage às coisas com preconceitos, violências, xenofobias, ataques de fúria e auto-preservação. Sua inexperiência, logo bate em sua cara afirmando:

Este é seu problema: sua ignorância da vida. Ora, meu Deus, rapaz, você percebe que nunca teve uma experiência com uma mulher? Oh, sim, eu tive, oh sim, tive bastante. Oh não, você não teve. Precisa de uma mulher, precisa de um banho, precisa de um bom empurrão, precisa de dinheiro.

Publicada em 1939, esta inexperiência se configura também como um vazio político. Hitler avançava no retrovisor pelo mundo, e o americano médio queria a vida burguesa: escrever, conhecer a vida, beber, dançar, avançar. De certa forma, o que nos mostra Fante é uma certa incapacidade ou apatia – muito comum na trajetória da literatura americana – para entender aquilo que se chama mundo do capital, organizado ao redor de uma cidade que anda, corre e trabalha. Na cidade de Fante, enfrentada por Bandini, o que se desvela é um espaço desmontado, esfacelado, pulverizado, uma espécie de “cidade de pó” em que sequer é possível reunir cacos para compor perguntas ou respostas.
Este talvez seja o fascínio visto por Charles Bukowski, que assina o prefácio da obra, ao dizer que em um deserto de biblioteca havia encontrado uma obra, esta e que ela o salvou deste vazio de pó. No entanto, na obra pouca coisa se salva. As constantes violências de Bandini a Camilla e posteriormente as violências de Sammy mostram apenas um mundo difícil de habitar, principalmente para as mulheres. Para Arturo, a vontade de encontrar algo, apesar de todo esforço, também ruía em pó, uma espécie de nebulosidade:

Ficamos deitados um longo tempo e eu estava preocupado, com medo e sem paixão. Algo como uma flor cinzenta cresceu entre nós, um pensamento que tomou forma e falou do abismo que nos separava. Eu não sabia o que era. Senti que ela esperava.

Entretanto, aos poucos e lentamente, algo de afetivo começa a aparecer e mesmo que não se concretize dentro da narrativa, aparece como uma esperança composta pela linguagem, recurso meramente da ficção que, de qualquer forma, surge como horizonte para Bandini.
Pergunte ao Pó é uma obra em latência, difícil  de se apreender. Para quem conhece a literatura americana, diversos elementos do século XX como as histórias de Bukowski, a narrativa de Philip Roth e, inclusive, o ímpeto beat podem aparecer já encubados como potência futura. Um livro de energia conflitante, por vezes explosiva, por vezes entrópica, mas que move o mundo dos americanos e nos fazer entender um pouco mais de como foi este alucinado século XX.



Fonte:
Formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO, mestrando em Memória Social na área de poesia brasileira e graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja, Flamengo e ócio criativo. Em geral, se arrepende do que escreve. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro Twitter: http://www.twitter.com/ziul


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