Pergunte ao Pó,
de John Fante, conta a
história do jovem Arturo
Bandini que vai
para Los Angeles tentar a vida como escritor. Após escrever um conto de
relativo sucesso, O Cachorrinho Riu, ele
aluga um quarto de hotel para viver exclusivamente da escrita. No entanto, ele
não consegue escrever nada, afinal como o próprio afirma, não possui experiência nenhuma
sobre a vida e, assim, como escrever?
Assim,
ele começa a caminhar pela cidade e manter relações e aproximações com pessoas
como a garçonete mexicana Camilla
Lopez, o barman Sammy,
a mulher da cicatriz Vera
Rivken e seu
mentor, o único que acreditava em seu talento (mas que na obra sequer aperece),
o editor J.
C. Hackmuth. O grande problema de Bandini é sua personalidade:
de frágil auto-estima e altamente consciente de suas fraquezas, quase sempre
reage às coisas com preconceitos, violências, xenofobias, ataques de fúria e
auto-preservação.
“O mundo era pó e ao pó voltaria”
John Fante
John Fante
Assim, ele começa a caminhar pela cidade e manter relações e
aproximações com pessoas como a garçonete mexicana Camilla
Lopez, o barman Sammy, a mulher
da cicatriz Vera Rivken e seu mentor, o único que acreditava
em seu talento (mas que na obra sequer aperece), o editor J.
C. Hackmuth. O grande problema de Bandini é sua personalidade:
de frágil auto-estima e altamente consciente de suas fraquezas, quase sempre
reage às coisas com preconceitos, violências, xenofobias, ataques de fúria e
auto-preservação. Sua inexperiência, logo bate em sua cara afirmando:
Este é seu problema: sua ignorância da vida. Ora, meu Deus, rapaz,
você percebe que nunca teve uma experiência com uma mulher? Oh, sim, eu tive,
oh sim, tive bastante. Oh não, você não teve. Precisa de uma mulher, precisa de
um banho, precisa de um bom empurrão, precisa de dinheiro.
Publicada em 1939, esta inexperiência se configura também como
um vazio político. Hitler avançava
no retrovisor pelo mundo, e o americano médio queria a vida burguesa: escrever,
conhecer a vida, beber, dançar, avançar. De certa forma, o que nos mostra Fante
é uma certa incapacidade ou apatia – muito comum na trajetória da literatura
americana – para entender aquilo que se chama mundo do capital, organizado ao
redor de uma cidade que anda, corre e trabalha. Na cidade de Fante, enfrentada
por Bandini, o que se desvela é um espaço desmontado, esfacelado, pulverizado,
uma espécie de “cidade de pó” em que sequer é possível reunir cacos para compor
perguntas ou respostas.
Este talvez seja o fascínio visto por Charles Bukowski, que
assina o prefácio da obra, ao dizer que em um deserto de biblioteca havia
encontrado uma obra, esta e que ela o salvou deste vazio de pó. No entanto, na
obra pouca coisa se salva. As constantes violências de Bandini a Camilla e
posteriormente as violências de Sammy mostram apenas um mundo difícil de
habitar, principalmente para as mulheres. Para Arturo, a vontade de encontrar
algo, apesar de todo esforço, também ruía em pó, uma espécie de nebulosidade:
Ficamos deitados um longo tempo e eu estava preocupado, com medo e
sem paixão. Algo como uma flor cinzenta cresceu entre nós, um pensamento que
tomou forma e falou do abismo que nos separava. Eu não sabia o que era. Senti
que ela esperava.
Entretanto, aos poucos e
lentamente, algo de afetivo começa a aparecer e mesmo que não se concretize
dentro da narrativa, aparece como uma esperança composta pela linguagem,
recurso meramente da ficção que, de qualquer forma, surge como horizonte para
Bandini.
Pergunte ao Pó é uma obra em latência,
difícil de se apreender. Para quem
conhece a literatura americana, diversos elementos do século XX como as
histórias de Bukowski, a narrativa de Philip Roth e, inclusive, o ímpeto beat podem
aparecer já encubados como potência futura. Um livro de energia conflitante,
por vezes explosiva, por vezes entrópica, mas que move o mundo dos americanos e
nos fazer entender um pouco mais de como foi este alucinado século XX.
Fonte:
Formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO, mestrando em Memória Social na
área de poesia brasileira e graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto
da leitura, pesquisa, cinema, cerveja, Flamengo e ócio criativo. Em geral, se
arrepende do que escreve. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro Twitter: http://www.twitter.com/ziul
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